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AS BEM AVENTURANÇAS - PARTE 1

As Bem Aventuranças - Parte 1 





As Bem-Aventuranças – Parte 1

por Thomas Watson  (1620-1686) 
Traduzido, reduzido e adaptado do original em inglês, em domínio público, pelo Pr Silvio Dutra   
“1 Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram-se os seus discípulos,
2 e ele se pôs a ensiná-los, dizendo:
3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos.
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.
10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”. (Mt 5.1-10).

As palavras deste sermão pregado por nosso Senhor Jesus Cristo devem ser fixadas permanentemente pelos seus ministros nas memórias dos seus ouvintes, porque há muitos que têm uma memória ruim conforme dizer de Tiago (1.25), e as recordações deles escoam facilmente tal como a água que sai de um recipiente. Aqueles que têm o encargo de conduzirem almas no caminho do céu devem lembrar que assim como não se pode ter um sangue enriquecido sem um intestino que funcione bem, no processamento dos alimentos que recebe, os quais devem possuir os nutrientes necessários, de igual modo se uma verdade não ficar retida na memória ela nunca poderá como diz o apóstolo Paulo, nos nutrir com as palavras da fé (I Tim 4.6). E com que freqüência o diabo, a ave do ar, apanha a boa semente que é semeada! Quantos sermões o diabo tem roubado! E é uma triste verdade que as pessoas não se permitem serem furtadas tão facilmente de seus bens materiais, mas dão pouca ou nenhuma atenção ao fato de o diabo lhes furtar continuamente o alimento espiritual através do qual elas podem ser fortalecidas na fé. 
Por isso os ministros de Cristo devem sempre brilhar não como velas ou lâmpadas, nem mesmo como planetas, mas como estrelas no firmamento de glória (Dn 12.3), porque eles são estas estrelas que devem brilhar nas mãos do Senhor deles (Apo 1.20) para que possam iluminar o caminho que conduz os pecadores à salvação.
A honra de converter almas não foi dada por Deus aos anjos, mas aos ministros do evangelho. Deus confiou aos Seus ministros a maioria das Suas jóias preciosas, as Suas verdades e as almas das pessoas que pertencem a Ele. Por isso o púlpito é mais elevado do que o trono de qualquer rei terreno, porque o ministro verdadeiramente constituído representa ninguém menos do que o próprio Deus.   
E agora quanto ao rebanho do Senhor: se os ministros têm que aproveitar todas as oportunidades para pregarem, o rebanho tem que aproveitar todas as oportunidades para ouvir. Quando a Palavra de Deus é pregada, o pão da vida é repartido a todos, e este pão é mais precioso do que ouro e prata (Sl 119.72). Na Palavra pregada, céu e salvação são oferecidos a você.

Jesus começou o Seu sermão no Monte com bem-aventuranças que contêm promessas e bênçãos.
O povo de Deus se encontra com muitas dificuldades e desânimos, e a marcha dos crentes não é somente perigosa e cansativa, como o próprio coração deles está sempre pronto a desfalecer. Não é portanto de se estranhar que Jesus tenha colocado diante deles a coroa da bem-aventurança para animar a coragem e inflamar o zelo deles.
E a bem-aventurança é o alvo que deve ser atingido, é o centro do qual devem partir todas as linhas da vida; é a flor da alegria dos crentes. É aquela condição abençoada na qual devem ser achados os servos de Jesus, conforme ele cita em Mt 24.46:
“Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar assim fazendo.”.
A bem-aventurança está portanto ligada a uma condição de alma, a um estado de espírito, a uma atitude de estrita obediência à Palavra de Deus, em todos os deveres ordenados nela.
Assim a bem-aventurança não consiste na aquisição de coisas mundanas, de bens naturais e terrenos.
Cristo não diz: “Bem-aventurados são os ricos”, ou “Bem-aventurados são os nobres”, contudo muitos idolatram estas coisas. Os filósofos pagãos ensinam que bem-aventurança é ter suficiência de subsistência e prosperar no mundo. Mas não há muitos crentes que parecem ser desta mesma opinião filosófica?
No entanto, nem mesmo todos os filósofos pagãos são desta opinião, pois vemos Sêneca afirmar que não há nada mais vergonhoso do que comparar o bem da alma racional com aquilo que é irracional.
Poucos chegam a entender que a árvore da bem-aventurança não cresce num paraíso terrestre. Deus não amaldiçoou a terra por causa do pecado? (Gên 3.17). Contudo muitos estão cavando para acharem a sua felicidade aqui, como se eles pudessem achar uma bênção numa maldição.
Nestas profundidades terrenas Salomão cavou mais do que qualquer outro homem e chegou à conclusão que tudo deste mundo é vaidade, enfado e canseira, dando um firme testemunho de que é somente em Deus que se pode satisfazer verdadeiramente a alma, e alcançar a condição de bem-aventurança.
As coisas terrenas não podem satisfazer aos anelos da alma e assim nunca tornar uma pessoa bem-aventurada porque estas coisas são transitórias, passageiras, e por isso Paulo diz que elas não são uma realidade permanente, senão uma aparência passageira:
“e os que usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa.” (I Cor 7.31).   
O dom da vida que reside no espírito é muito mais do que o sustento do corpo físico. É por isso que Jesus diz o que lemos em seu ensino sobre esta verdade em Mt 6.25:
“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?”.
A bem-aventurança não se encontra de fato nas coisas terrenas porque elas não podem aquietar o coração atribulado. Elas não podem trazer alívio e livramento ao coração que está sendo batido pelas batalhas espirituais.
 A bem-aventurança não se encontra nas coisas terrenas porque é exatamente nelas que encontramos a maior fonte de tentação para nos afastar da comunhão com Deus, conforme vemos no dizer do apóstolo João:
“15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
16 Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.
17 Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre.” (I Jo 2.15-17). 
A bem-aventurança que Deus tem para os seus filhos não é fugaz como todas as riquezas deste mundo. E não fere os nossos corações como tais riquezas porque não há o temor de perdê-las. 
Se nós não tivermos estas coisas terrenas nós não seremos amaldiçoados, nem sequer podemos ser mais santificados por causa delas.
E devemos saber que é grande a tentação para entesourar riquezas para o próprio dano daquele que o fizer, como se diz em Eclesiastes 5.13: “Há um grave mal que vi debaixo do sol: riquezas foram guardadas por seu dono para o seu próprio dano;”. 
Definitivamente não é no acúmulo de bens terrenos que devemos colocar todo o nosso empenho e esperança de encontrar a bem-aventurança.
O coração do rei de Tiro se elevou e ele chegou a não somente a se esquecer do Altíssimo, como também a afrontá-lo, e daí ter o Senhor proferido contra ele as palavras de Ez 28.5: ”Pela tua grande sabedoria no comércio aumentaste as tuas riquezas, e por causa das tuas riquezas eleva-se o teu coração;”. E nisto ele seguiu os mesmos passos de Satanás em sua queda, e é por isso que encontramos uma palavra que se aplica tanto ao rei de Tiro quanto ao próprio Satanás em Ez 28.13-18:
“13 Estiveste no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de toda pedra preciosa: a cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
14 Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas.
15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniqüidade.
16 Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas.
17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei; diante dos reis te pus, para que te contemplem.
18 Pela multidão das tuas iniqüidades, na injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu a ti, e te tornei em cinza sobre a terra, à vista de todos os que te contemplavam.”.
É com todas estas coisas em vista que Paulo afirma o que lemos em I Tim 6.9,10:
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”.
 Tendo mostrado em que a bem-aventurança não consiste, eu mostrarei agora em que ela consiste:
Em primeiro lugar, consiste em alegria, em regozijo e gozo pela certeza das coisas que a alma possui.
Um homem pode possuir uma propriedade e contudo não desfrutá-la. Ele pode ter o domínio da coisa mas não o seu conforto. Mas a verdadeira bem-aventurança sempre produz prazer na alma.  
Em segundo lugar a bem-aventurança melhora a alma, e a enobrece, tornando-a mais preciosa para Deus e para o seu próprio possuidor.
A bem-aventurança traz deleite verdadeiro e duradouro.
Na verdadeira bem-aventurança há variedade. E somente em Jesus há a plenitude de todas as coisas das quais necessita a nossa alma (Col 1.19).
A verdadeira bem-aventurança tem a eternidade estampada nela, e deve ser inabalável, algo que não admita nenhuma mudança ou alteração. 
O crente já se encontra abençoado em certo sentido. Somente o fato de ter escapado da condenação eterna por estar em Cristo já é uma grande bênção. Mas há muitas bênçãos ocultas em Cristo que o crente é convocado a buscar através de uma vida devotada a Deus.   
Simei amaldiçoou Davi mas ele não se importou, ainda que em grande angústia e tribulação porque tinha a convicção que ele era um abençoado de Deus.
Os santos são co-participantes da natureza divina (II Pe 1.4). Eles foram abençoados por Deus com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo (Ef 1.3).
Os crentes têm a semente de Deus neles (I Jo 3.9), e esta semente é a semente da bem-aventurança.
A flor da glória nasce da semente da graça. A graça e a glória não diferem em tipo mas em grau. A graça é a raiz e a glória o fruto. A graça é a gloria no amanhecer, e a glória é a graça no entardecer. A graça é o primeiro elo da corrente da bem-aventurança. Mas todo aquele que tem o primeiro elo da corrente na sua mão, tem a posse da corrente inteira com todos os seus demais elos.
Os santos já são bem-aventurados porque os pecados deles não lhes serão mais imputados para juízo condenatório. Toda a dívida dos seus pecados foi paga por Cristo na cruz.
Os santos já são bem-aventurados porque têm o selo do Espírito Santo. Eles têm todas as coisas desta vida cooperando para o bem deles. Tanto a prosperidade quanto a adversidade pode torná-los melhores quer em gratidão, quer em devoção, santificação e adoração.
Os santos já são bem-aventurados porque eles podem ser achados debaixo da cruz, mas não mais da maldição. 

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.3) 

Tendo falado da noção geral de bem-aventurança, vejamos agora cada uma das bem-aventuranças que foram ensinadas por Jesus no Sermão do Monte.
Nós podemos observar a divindade neste sermão do Senhor, o qual vai além de toda a filosofia. Na verdade ele vai no sentido contrário da filosofia humana, porque aqui se diz que a pobreza produz riquezas, e não somente isto, que aquele que é enriquecido pela pobreza aqui referida possui um reino. De igual modo, nós veremos na bem-aventurança que se segue a esta primeira, que o choro, a tristeza, produz conforto. Diz-se que a água das lágrimas acenderá a chama da verdadeira alegria. E mais ainda, que a perseguição trará felicidade, pois se diz que felizes são os perseguidos por causa da justiça. Estes são os paradoxos sagrados do sermão de nosso Salvador.
Observe como diferem a doutrina de Cristo e a opinião dos homens carnais. Eles pensam que bem-aventurados são os ricos, mas Cristo diz que bem-aventurado é o pobre de espírito. O mundo pensa que bem-aventurados são aqueles que se encontram no pináculo, mas Cristo diz que bem-aventurados são os que estão no vale.  
Aqueles que usariam as jóias de Cristo, mas renunciariam à cruz dEle, são estranhos ao verdadeiro cristianismo. 
Observe a conexão entre a graça e a sua recompensa. Aqueles que são pobres de espírito terão o  reino de Deus.
Nosso Salvador encoraja os homens à religião associando mandamentos com promessas. Ele amarra dever e recompensa juntamente. Uma parte destes versos carrega o dever e a outra parte carrega a recompensa.  
Nós observamos também nas bem-aventuranças que elas estão encadeadas e uma conduz a outra. Aquele que tem pobreza de espírito é um quebrantado. Aquele que é quebrantado é submisso. Aquele que é submisso é misericordioso etc.
O Espírito de Deus planta no coração da nova criatura em Cristo, todas as graças. A nova criatura tem todas as partes que compõem o novo homem criado pelo Espírito na regeneração, assim como o corpo físico possui todos os membros e órgãos necessários ao seu pleno funcionamento.
Nisto consiste a diferença entre um verdadeiro filho de Deus, um eleito, e um hipócrita. O hipócrita se gaba de possuir alguma graça pretensiosa, no entanto ele não possui todas as graças, e verdadeiramente, como as possui aquele que é nascido do Espírito. O hipócrita não tem pobreza de espírito, nem pureza de coração, considerando que um filho de Deus tem todas as graças no seu coração, ainda que seja em semente, e necessite ainda crescer em graus.  
Ser pobre de espírito não é o mesmo que ser pobre de propriedade, porque é possível ser pobre de propriedade e não ser pobre de espírito. 
E há também distinção em ser espiritualmente pobre, e ser pobre de espírito. Aquele que está sem graça é espiritualmente pobre, e não é pobre de espírito, e não conhece até mesmo a sua pobreza espiritual (Apo 3.1).
Bem, então, o que devemos entender por pobre de espírito? A palavra grega para pobre, ptwcoi, ptocoi, significa estar reduzido à mendicância, ser destituído de riqueza, influência, posição, honra, e estar destituído de virtudes cristãs e riquezas eternas, ser desamparado, impotente para realizar um objetivo, ser necessitado em todos os sentidos. Pobre de espírito significa então aqueles que são trazidos ao senso da própria miséria deles em razão dos seus pecados, e que não vêem nenhuma bondade em si mesmos, e em seu desespero se entregam completamente à misericórdia de Deus em Cristo.
Pobreza de espírito é um tipo de auto negação. A pessoa se vê como o publicano da parábola de Lc 18.13, e fala juntamente com Paulo que não há nenhuma justiça nela própria que lhe possa recomendar a Deus (Fp 3.9). 
Por que Jesus teria começado o sermão do Monte com pobreza de espírito?
Certamente o Senhor a colocou na vanguarda porque a pobreza de espírito é o fundamento no qual todas as demais graças são colocadas. Tal como o fruto não pode acontecer numa árvore sem raiz, de igual modo as demais graças não podem existir sem pobreza de espírito.
Quando uma pessoa vê os seus  próprios defeitos e deformidades e se vê imperfeita por causa dos seus pecados, então chorará na presença de Cristo.  E esta pobreza de espírito fará com que tenha fome e sede de justiça, porque desejará estar conformado àquilo que Deus é. 
Assim a pobreza de espírito é a causa da humildade, porque quando um homem vê a sua necessidade de Cristo, e como ele depende das suas graças, isto o leva a se humilhar.
E até que nós sejamos pobres de espírito, nós não somos habilitados a receber a graça. Aquele que está inchado com uma opinião de auto-excelência e auto-suficiência, não está ajustado a Cristo. Ele já está cheio de si mesmo. Se a mão está cheia de seixos, ela não pode receber ouro. O copo deve ser esvaziado primeiro, antes que possa ser enchido de vinho. Assim Deus esvazia primeiro o homem de si mesmo, antes de enchê-lo com o precioso vinho da graça. Somente o pobre de espírito pode ser alcançado pela comissão de Cristo, porque se diz que ele veio para os que estão quebrados quanto ao senso da indignidade deles:

“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;” (Is 61.1).

Até que sejamos pobres de espírito, Cristo não é precioso para nós. Antes de vermos nossas próprias necessidades, nunca veremos o valor que Cristo tem para nós.
Os que são ricos em pobreza de espírito são aqueles que são verdadeiramente ricos da graça de Deus, porque ele a derrama abundantemente sobre os humildes. Assim as riquezas de um crente consistem na sua pobreza de espírito.  Esta pobreza o habilita para um reino. Assim, quão pobres são aqueles que pensam serem ricos, e quão ricos são aqueles que se vêem pobres e necessitados da graça de Deus.
Se bem-aventurado é o pobre de espírito, então pelo sentido oposto podemos entender que o amaldiçoado é o orgulhoso de espírito (Pv 16.5).

“Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; certamente não ficará impune.” (Pv 16.5).

Aqueles que se julgam muito bons para irem para o céu jamais o alcançarão.  Tal como o fariseu de Lc 18.11 não serão justificados por Deus porque o orgulho deles não lhes permite enxergarem o quanto necessitam de arrependimento.
Não admira que Cristo chame tais homens de cegos porque eles estão nus, mas se recusam a receber o vestido branco de justiça de Jesus para cobrirem a sua nudez, porque pensam que são ricos e que não necessitam de nada da parte do Senhor. Eles estão cegos e não poderão ver que estão nus caso não apliquem o colírio de Cristo aos seus olhos espirituais para que possam ver. .
O pobre de espírito é verdadeiramente rico para com Deus porque entre os muitos benefícios que lhe advêm de tal pobreza podemos destacar os seguintes:
O pobre de espírito é desmamado de sua própria alma. O seu ego deixa de ser o centro de seus objetivos e atenções, e Cristo passa a ocupar este lugar central em sua vida.  Ele não confia em si mesmo e não busca apoio na sua própria alma para estar firme, mas nAquele que o fortalece em tudo.
Assim, o pobre de espírito é um adorador e admirador de Cristo. Ele tem os pensamentos mais elevados acerca dEle. Ele se vê nu e corre para Cristo para se cobrir com a Sua veste de justiça, de modo a poder obter a Sua bênção. 
O pobre de espírito nunca está satisfeito com a pobreza da sua alma quanto aos dons e graças de Deus, e se empenha diligentemente em buscá-los nEle, para enriquecer a sua alma. Ele lamenta sempre por não ter mais graça para poder glorificar ainda mais o nome do Seu Deus.  E esta é a diferença principal entre o hipócrita e um verdadeiro filho de Deus. O hipócrita se gaba daquilo que pensa possuir, e o filho de Deus lamenta o que lhe falta e reconhece que sem a graça do Senhor nada é e nada tem. . 
Assim aquele que é pobre de espírito é também humilde de coração.
Homens ricos costumam ser orgulhosos e arrogantes, mas o pobre de espírito é manso e submisso. E quanto mais graça ele tem mais humilde ele se torna, pois entende o quanto é devedor a Deus. Quando executa bem qualquer dever reconhece que o fez muito mais pela força de Cristo do que pela própria (Fp 4.13). Ele reconhece que o seu trabalho na obra de Deus foi realizado pela graça do Senhor (I Cor 15.10).  
O pobre de espírito ora muito porque reconhece o quanto depende da oração porque vê o quão longe está do padrão da santidade divina, então implora mais graça e mais fé ao Senhor, para poder estar em conformidade com Ele. 
O pobre de espírito é muito grato porque sabe o quanto tem sido alvo da misericórdia de Deus.
A pobreza de espírito é o fundamento no qual Deus edifica a super estrutura da Glória.
 Assim é possível que alguém tenha as riquezas do mundo e ainda ser pobre, porque a verdadeira riqueza de alguém não consiste na quantidade de bens mundanos que ele possui, mas na grandeza da sua pobreza de espírito. Quanto mais pobre de espírito uma pessoa for, mas rica ela será, porque terá sempre mãos vazias para serem enchidas por Deus com as bênçãos espirituais que destinou aos crentes em Cristo Jesus (Ef 1.3).

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo;” (Ef 1.3)  

Esta pobreza é a nobreza do crente. Deus olha para o pobre de espírito como uma pessoa honrada.  Aquele que é vil aos seus próprios olhos é precioso aos olhos de Deus, porque se apresenta verdadeiro diante dele reconhecendo-se vil pecador.
A pobreza de espírito aquieta a alma docemente, pois leva a pessoa a descansar em Cristo. Ele se vê pobre, mas pode dizer juntamente com Paulo: “o meu Deus proverá todas as minhas necessidades” (Fp 4.19).               
Os que desejam ser ricos segundo o mundo buscam construir um reino temporal aqui, mas o pobre de espírito almeja por um reino celestial. E os santos reinarão com Cristo numa maneira gloriosa, porque lhes é prometido não um reino  terreno, mas o reino dos céus.   
Depois da morte os santos são coroados (Apo 2.10). Eles não são apenas perdoados por Cristo, mas são também coroados. A coroa é um símbolo de honra e autoridade. E a coroa que os santos receberão é mais excelente do que todas as demais. E não haverá o risco de se perder esta coroa, conforme o temor que sentem os reis terrenos quanto à possibilidade de perderem as suas. E esta coroa não instigará inveja porque um santo não invejará outro, porque todos serão coroados. Esta coroa é imarcescível, eterna (I Pe 5.4) e jamais perderá o seu brilho.
No terceiro céu (II Cor 12.2), neste lugar sublime e glorioso será erguido o trono dos santos. Um trono seguro e inabalável.

“Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono.” (Apo 3.21).

Um preço foi pago para isto. Jesus derramou o seu sangue na cruz para que o santos conquistassem o reino através do Seu sangue. Jesus foi pregado na cruz para nos trazer à coroa.   
Nós entendemos então porque são tão exíguas as exigências de Deus para que os Seus filhos se santifiquem em tudo, empenhando-se em todo o esforço para mortificarem o pecado e a carne, pois afinal, a recompensa que lhes é feita é a de um reino eterno celestial glorioso. 
Nós podemos pensar que é um grande sacrifício nos empenharmos para mortificar definitivamente o pecado em nossas vidas, mas Deus não acha nenhum sacrifício em nos dar graciosamente um tão maravilhoso reino, ao contrário, foi do Seu inteiro agrado concedê-lo a nós (Lc 12.32). 
Os crentes são herdeiros do reino, e qual herdeiro não deseja ser coroado?
“Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2.5).
Enquanto neste mundo, parece que os santos fiéis e piedosos são massacrados pelas suas próprias fraquezas, e pelas investidas furiosas dos principados das trevas sobre eles, mas eles são chamados pelo Senhor a exultar em tudo isto porque a fidelidade deles será recompensada com um reino onde serão consolados definitivamente de todos os seus sofrimentos.
E para que tivéssemos a firme certeza desta esperança Deus colocou o reino dentro de nós. O reino de Deus está dentro do crente (Lc 17.21). E este reino significa o reino da graça no coração. E a graça pode ser comparada a um reino porque ordena a lei de Deus na alma e executa tudo o que é necessário para a nossa transformação de glória em glória à própria imagem e semelhança do Senhor. E a graça rege sobre os nossos pecados destruindo-os e colocando-os com sua autoridade, em cadeias. E governa assim sobre o orgulho, sobre a paixão e incredulidade. Se há evidências seguras deste reino da graça trabalhando no nosso coração, então podemos estar certos de que entraremos no reino dos céus depois da nossa morte, e de que seguramente seremos coroados por Cristo para reinarmos juntamente com Ele.    
E lembremos que assim como há graus de tormento para aqueles que forem para o inferno, de igual modo há graus de glória para os herdeiros do reino de Deus, e assim quanto mais serviço alguém fizer  para o Senhor, maior será a sua glória no reino por vir. Deus recompensará os homens segundo as suas obras, e assim, quanto for maior o serviço, maior será a recompensa. Deus tem posto isto para nos incentivar a buscarmos uma santidade, devoção e serviço cada vez maiores. Quanto for maior a glória que Deus receber através de nossas obras, maior será a nossa própria glória quando estivermos reinando juntamente com Cristo. E isto será uma grande honra para nós pelo modo como o Senhor nos distinguirá como forma do Seu agrado pela nossa fidelidade a Ele.
Basílio disse que a esperança de um reino deveria levar o crente  a ter coragem e alegria em todas as suas aflições.


Pb. Marcus Vinicius
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