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AS BEM AVENTURANÇAS - PARTE 4

As Bem-Aventuranças – Parte 4 


As Bem-Aventuranças – Parte 4
por Thomas Watson  (1620-1686)
Traduzido, reduzido e adaptado do original em inglês, em domínio público, pelo Pr Silvio Dutra  
 “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.” (Mt 5.7).
Haveria necessidade de pregar sobre  misericórdia mais do que nestes tempos desapiedados em que nós vivemos?
Mas vejamos primeiro os vários tipos de misericórdia. 
O que é misericórdia? É uma disposição por meio da qual nós carregamos no coração as misérias de outros e estamos prontos em todas as ocasiões a sermos instrumentos para o bem deles. 
Em que o amor e a misericórdia diferem? 
Em algumas coisas eles concordam eles, em outras eles diferem, como águas de um rio que podem ter duas nascentes, mas se encontram no fluxo. O amor e misericórdia diferem nisto: o amor é mais extenso. O amor é um amigo constante que nos visita até mesmo quando estamos bem. A misericórdia é como um médico que só nos visita quando estamos doentes. O amor age mais por afeto. A misericórdia age mais por um princípio de consciência. A misericórdia empresta sua ajuda a outro. O amor dá seu coração a outro. Assim eles diferem, mas o amor e a misericórdia concordam nisto: ambos estão sempre prontos a prestarem bons serviços. 
A misericórdia procede de um trabalho da graça no coração. Por natureza, nós estamos bem longe da misericórdia. O pecador é uma oliveira brava e não uma oliveira que dá bom azeite. É o caráter e vocação do homem natural ser desapiedado (Rm 1.31).
Por natureza nós não produzimos azeite, mas veneno; não o óleo da misericórdia, mas o veneno da malignidade. 
Além desta falta de misericórdia inata que está em nós, há algo que é também infundido por Satanás. O príncipe das trevas trabalha no coração dos homens (Ef 2.2). E se ele domina os homens não é de se estranhar que eles sejam implacáveis e sem misericórdia. Que misericórdia pode ser esperada do inferno? De forma que, se o coração é afinado com a misericórdia, é por causa da mudança que a graça fez (Col 3.12).
Assim, antes de ser um homem misericordioso, é necessário ser uma nova criatura.
Nós devemos ser misericordiosos às almas de outros, especialmente das que não foram salvas. Realmente este é o principal tipo de misericórdia, porque a alma é a coisa mais preciosa que existe.   
Mais do que nós sentimos pela morte física de alguém, nós deveríamos sentir pela sua morte espiritual, porque este é o estado permanente de toda pessoa que não conhece a Cristo, e por sua morte eterna, que se seguirá ã sua morte física. 
O pecador sem Cristo está debaixo de uma horrível sentença de condenação eterna de um sofrimento eterno no fogo do inferno, e como não nos compadeceríamos da condição em que ele se encontra? Como deixaríamos de sentir preocupação pelo estado eterno da sua alma?  Como deixaríamos de lutar bravamente em intercessão pela salvação da sua alma?
Assim uma alma misericordiosa reprovará os pecadores refratários. Nós estaremos sendo misericordiosos quando lutarmos com eles pela salvação de suas almas e não permitirmos que eles desçam quietamente para o inferno. Se a casa de uma pessoa estivesse pegando fogo nós deixaríamos de lhe dar o devido aviso para não alarmá-la quanto ao prejuízo que estava sofrendo? E nós ficaremos calados vendo alguém dormir o sono da morte e o fogo da ira de Deus pronto a queimá-lo? 
Veja então como é um trabalho abençoado o trabalho do ministério! A pregação da Palavra nada mais é do que mostrar misericórdia às almas.
 Nós devemos ser misericordiosos em relação às dívidas que outros tenham conosco e não tenham condições financeiras para saldá-las. Nós não podemos executar uma dívida que venha a colocar em risco a sobrevivência do nosso devedor (Dt 24.6).
Nós devemos ser também misericordiosos às ofensas de outros. Esteja pronto para mostrar misericórdia àqueles que o prejudicaram.
“A discrição do homem fá-lo tardio em irar-se; e sua glória está em esquecer ofensas.” (Pv 19.11).
Nós devemos ser misericordiosos às necessidades de outros. Considere os pobres; veja as lágrimas deles, os suspiros deles, os gemidos deles.
A palavra hebraica para misericórdia é hesed, C£Q£G , e significa intestino, entranhas. Isto indica que a misericórdia deve ser uma ação que provenha do nosso interior, que seja movida pelos nossos sentimentos de simpatia para com as necessidades de outros.
É um tipo de crueldade alimentar uma pessoa em necessidade e não simpatizar com ela.
A verdadeira religião gera ternura. Derrete o coração em lágrimas de contrição para Deus, em intestinos de compaixão por outros.
Deus demonstra a Sua misericórdia e cuidado com os pobres nos muitos mandamentos da Lei de Moisés que prescreveu para o benefício deles (Ex 23.11; Lev 19.9; 25.35; Dt 14.28,29 etc).
Pelo menos em dois aspectos as boas obras são em algum senso, mais excelentes do que a fé. Porque  elas são de uma natureza diferente mais nobre. Embora a fé seja mais necessária para nós mesmos, contudo as boas obras são mais benéficas a outros. A fé é uma graça receptiva. As boas obras são para o bem de outros, e é uma coisa mais abençoada dar do que receber. 
Devemos lembrar que não somos, para Deus, senhores de uma propriedade, mas mordomos, e deveremos prestar contas da nossa mordomia. Uma propriedade é um talento para ser comerciado, e quão perigoso é esconder nosso talento.
E lembremos também que tudo o que é desembolsado para o pobre é dado a Cristo (Mt 25.40). O homem pobre é a tesouraria de Cristo, e nada do que é depositado lá é perdido. E o texto da bem-aventurança promete que o misericordioso obterá misericórdia. Os que semeiam misericórdia colherão misericórdia. O homem misericordioso será recompensado nesta vida e na vida por vir. O seu nome será abençoado. As suas propriedades serão abençoadas. Ele abundará em todas as coisas. A posteridade dele será abençoada. Haverá bênçãos no seu trabalho.
Antes de fechar este assunto eu devo dizer que tudo o que fizermos deve ser de modo livre e voluntário e devemos fazê-lo em Cristo e para Cristo, porque as melhores obras que não são originadas da fé estão perdidas. Todo fruto aceitável a Deus deve ser produzido na Videira Verdadeira.   
As obras de misericórdia devem ser feitas em humildade e sem ostentação. E se a nossa ação em atender à necessidade do pobre for feita de tal forma que venha a humilhá-lo, isto será em si mesmo um mal maior do que a própria necessidade dele. Sejamos então criteriosos no exercício da misericórdia.   
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.” (Mt 5.8) 
Deus é tão puro de olhos que não pode ver o mal, e não pode contemplar a perversidade (Hc 1.13). Isto significa que os olhos de Deus são perfeita e puramente bons e não param para se deleitarem na observação da maldade. Eles não se detêm na contemplação do mal, antes têm repugnância a toda forma de maldade.
A pureza é uma coisa sagrada perfeitamente refinada. Levanta-se diametralmente em oposição a tudo o que é sujo.
Nós devemos distinguir os vários tipos de pureza. Primeiro, há uma pureza primitiva que está originalmente e essencialmente em Deus A santidade é a glória da divindade. Deus é o padrão e protótipo de toda a santidade.
Segundo, há uma pureza criada. Assim a santidade está nos anjos eleitos e esteve uma vez em Adão. O coração de Adão não tinha a menor mancha ou impureza. Nós chamamos isto de ouro puro que não tem qualquer escória misturada nele. Tal era a santidade de Adão. Mas isto não será achado na terra. Nós temos que ir para o céu para encontrá-lo.
Terceiro, há uma pureza evangélica; na qual a graça se encontra misturada com algum pecado, como a escória no ouro. Deus chama esta mistura de pureza, em sentido evangélico. Onde houver uma presença de pureza com uma repugnância por nós mesmos por causa da nossa impureza, esta pessoa é  pura de coração.
A simples civilidade não é nenhuma pureza. Um homem pode estar vestido com justiça de virtudes morais, prudência, temperança contudo ir para o inferno.
Profissão de fé não é nenhuma pureza. Um homem pode ter um nome de que vive, isto é, ser considerado um crente, e ainda estar morto (Ap 3.1). Ele pode ter como o joio, toda a aparência com o trigo, no entanto, o diabo ainda reside na casa.
Pureza é a finalidade da nossa eleição.
“como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;” (Ef 1.4).
A pureza deve ser principalmente do coração porque se o coração não é puro, nós não diferimos nada de uma pureza farisaica. A santidade do fariseu consistia principalmente em exterioridades. A pureza deles era apenas externa. Eles nunca deram atenção ao interior do coração.
O coração deve ser especialmente puro, porque é o coração que santifica tudo o que nós fazemos. Se o coração é santo, tudo é santo. O coração é o altar que santifica a oferta.
Se nós devemos ser então puros de coração nós não devemos nos contentar apenas com exterior. Civilidade não é suficiente. Um suíno pode ser lavado, contudo é ainda um suíno. A civilidade nada faz além de ensinar boas maneiras a um homem, mas a graça o transforma em seu interior.
A santidade de coração, a sua purificação está tipificada na Lei porque se exigia de Arão que ele lavasse as entranhas dos sacrifícios (Lv 9.14).
Esta pureza de coração não é sentimental mas real, operada pelo lavar do Espírito Santo mediante aplicação da Palavra de Deus. Desta forma, um coração ignorante da vontade de Deus, especialmente da revelada na Sua Palavra é um coração impuro, porque a ignorância é o castelo forte de satanás (At 26.18). Os demônios são aprisionados em cadeias de trevas (Jd 6). E assim o são também todas as pessoas ignorantes de Cristo e da Sua vontade, que não o conhecem. Elas se encontram nas trevas espirituais da ignorância.
As Escrituras trovejam contra o pecado mas estes pecadores não temem este trovão. Ministros que são como Boanerges, vestidos do espírito de Elias, ainda que denunciem todas as maldições de Deus contra os pecados dos homens, contudo ainda assim eles não lhes dão a devida consideração. O pecado os engana e os justifica, dizendo que Deus não pode afinal exigir uma tal pureza de coração a pecadores. No entanto é o que Ele requer de fato e o revelou de capa a capa na Bíblia. 
E esta resistência a crer no padrão de santidade e pureza que são exigidos por Deus em Sua Palavra é chamado pela Bíblia de coração mau de incredulidade (Hb 3.12).
E este tipo de incredulidade é um tipo terrível porque chama Deus de mentiroso quando Ele afirma que devemos ser santos porque Ele é santo.
Aqueles que não crêem nos mandamentos de Deus e que não se dispõem a honrá-los e praticá-los, nunca O amarão verdadeiramente, porque somente os que têm os mandamentos de Cristo e que os guardam são verdadeiramente aqueles que O estão amando. Não admira portanto que haja mesmo entre os filhos de Deus não poucos que não Lhe estejam amando de fato.   
A incredulidade endurece o coração e o torna hipócrita. E a falta de pureza do coração produzida pela incredulidade o expõe a se tornar um apóstata. Esta é a razão porque muitos que pareciam uma vez zelosos se encontram agora menosprezando os santos e justos caminhos do Senhor.
Há uma antipatia entre um coração carnal e a santidade. Todo aquele que deprecia a pureza tem um coração impuro. Os carnais zombam daqueles que se esforçam para serem espirituais. Mas não é ordenado que sejamos perfeitos como Deus é perfeito? (Mt 5.48).
Vejamos agora quais são as principais características de um coração puro:
Um coração puro é um coração sincero, e um coração sincero serve a Deus de todo o coração. Ele tem prazer em servir ao Senhor e honrar o Seu nome. Ele busca manter o coração em pureza não para a sua própria glória mas para que o nome de Deus seja exaltado e glorificado. 
Os hipócritas tem um coração duplo, dividido. Um coração para Deus e outro para o pecado. Deus ama um coração quebrado, mas não um coração dividido. Um coração sincero segue a Deus completamente. 
Um homem de coração sincero nunca agirá contra a sua consciëncia.
Um coração puro é um coração que se conduz pela verdade e sabe que é possível haver iluminação sem santificação, como bem o exemplificam Saul e Judas.
Um homem poder reprimir e pode abandonar certos pecados, contudo não ter um coração puro, porque o coração puro detesta todos os pecados.
Um homem pode reprimir o pecado pelo temor da penalidade, mas o de coração puro reprimirá o pecado por amor a Deus.
Aqueles que protestam amar a Deus mas que têm ainda suas mentes aprisionadas ao prazer das impurezas que Deus condena, não têm ainda um coração puro. Quando alguém chega a dizer com o salmista que odeia toda vereda de falsidade, isto é realmente excelente, porque agora o amor ao pecado foi de fato crucificado, e isto é indicativo de que se alcançou um coração puro.  
“Pelos teus preceitos alcanço entendimento, pelo que aborreço toda vereda de falsidade.” (Sl 109.104).
Um coração puro evita a aparência do mal. Se priva de toda a aparência do mal (I Tes 5.22). Um coração puro evita aquilo que pode ser interpretado como mal.
Um coração puro executa deveres santos de uma maneira santa.
Um coração puro terá uma vida pura: “Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.” (II Cor 7.1). Onde há uma consciência boa haverá uma conversação boa. Alguns bendizem a Deus, eles têm bons corações, mas as vidas deles são más. Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos e ainda não foi lavada da imundícia deles (Pv 30.12).
Um coração puro está tão apaixonado por pureza e nada pode desviá-lo  disto. Deixe outros reprovarem a pureza, ele continuará amando isto.Ele sabe que se os cegos ridicularizarem um diamante, nem por isto ele terá menos valor. 
 A pureza de coração nos torna parecidos com Deus. A infelicidade de Adão consistiu em que ele aspirou ser como Deus em onisciência; mas nós devemos nos esforçar para sermos como Deus em santidade. A imagem de Deus consiste em santidade. E àqueles que não têm esta imagem Ele dirá que não os conhece.
Deus é bom para com os puros de coração (Sl 73.1). Isto significa que Ele terá prazer em manifestar a Sua bondade aos tais, como recompensa do esforço deles para agradá-lo buscando viverem em sincera santidade. Tudo cooperará para o bem destes que amam verdadeiramente a Deus. Estes são os de coração puro, porque guardam os Seus mandamentos.
O puro de coração verá a Deus.
Mas como nós atingiremos a pureza de coração? 
Por meditar freqüentemente na Palavra de Deus.
“Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.” (Jo 15.3).
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (Jô 17.17).
Por se lavar no sangue de Cristo, pela fé na obra que Ele realizou na cruz para nos santificar.
Por andar no Espírito, enchendo-se dEle.
Por não andar no caminho dos pecadores e não se assentar na roda dos escarnecedores, isto é, por não ter como amigos do peito quem não seja amigo de Deus.
Por orar por pureza de coração. 
Vejamos agora de que maneira os puros de coração verão a Deus.
O puro coração verá o puro Deus. Há uma visão dupla que os santos têm de Deus.
1 - nesta vida; quer dizer, espiritualmente pelo olho da fé. A fé vê os atributos gloriosos de Deus na Sua Palavra. A fé o vê através das Suas ordenações. Assim Moisés viu aquele que é invisível (Hb 11.27). E tal como Moisés os crentes vêem a glória de Deus como que se vissem apenas parte dela, pela impossibilidade de verem-na em todo o seu esplendor infinito (Ex 33.23). Mas lhes é concedido verem a glória na medida em que possam suportá-la e isto lhes basta para serem santificados.
2 - na vida por vir, e esta visão gloriosa é citada no texto: “eles verão a Deus.”.
Nós veremos Deus como Ele é (I Jo 3.2), na plenitude da Sua glória, porque teremos corpos glorificados, não de carne e sangue, corpos celestiais apropriados para terem tal visão de Deus, que é espírito. Será portanto uma visão perfeita. Nós veremos o rei na Sua formosura (Is 33.17). Todas as demais luzes serão eclipsadas por aquela visão gloriosa. Ali entenderemos o por que é devida total pureza e santidade a um Deus tão puro e glorioso.
Esta visão de Deus será uma visão transformadora porque nos fará perfeitos assim como Ele é perfeito. Nós seremos completamente santos, assim como Ele é santo (I Jô 3.2). Nós receberemos da Sua mesma glória resplandecente e também brilharemos como as estrelas do céu. Não se trata portanto apenas de uma promessa de que os puros de coração verão a Deus, mas nesta promessa estão embutidas todas as conseqüências sagradas e espirituais que acompanharão este privilégio de poder ver a Deus, como recompensa de ter se empenhado na purificação do coração contra todo o tipo de pecados. Aqueles que honraram a Deus deste modo neste mundo, serão honrados e recompensados por Ele na glória.
E a alegria que acompanhará tudo isto no céu é de tal grandeza que não pode ser exprimida por palavras (I Pe 1.8). E esta alegria irromperá em adoração e louvores a Deus que adentrarão pela eternidade afora. 

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5.9)


Este é o sétimo degrau da escada de ouro que conduz à bem-aventurança. O trabalho da paz é um trabalho abençoado, e por isso se diz que são bem-aventurados os pacificadores.
A Bíblia une a pureza de coração à paz de espírito:
“Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica...” (Tg 3.17).
“Segui a paz com todos, e a santificação...” (Hb 12.14).
E aqui Jesus une puros de coração com pacificadores, como se não pudesse haver nenhuma pureza onde não há uma sincera busca de paz. Os que amam a paz do Senhor e que se empenham por serem achados em paz nEle são praticantes da verdadeira religião, porque é suspeita a religião que está cheia de facção e discórdia.
Não se pode dizer que são bem-aventurados aqueles que estão divididos em seus corações por disputas, invejas, iras, discórdias. Mas bem-aventurados são todos aqueles que são promotores da paz, primeiro em si mesmos, vencendo a fúria pecaminosa de seus corações, e depois no trato com os seus semelhantes. 
Assim, antes que um homem possa ser um promotor da paz, ele deve ser um amante da paz.
A paz de espírito é a beleza visível de um santo, que expressa a pureza escondida no interior do seu coração.
O ornamento de um espírito pacifico e quieto é uma jóia de grande valor à vista de Deus (I Pe 3.4). 
Os crentes são ovelhas de Cristo (Jo 10.27) e a ovelha é uma criatura pacífica. Embora eles devam ser leões em relação à coragem para enfrentar o pecado, contudo eles devem ser cordeiros em relação à paz. Deus não estava no terremoto e nem no fogo, mas no cicio suave (I Rs 19.12). Deus não está no espírito iracundo, mas no espírito pacífico.
Nós temos que ter paz em família, quer nos lares, quer na igreja. É chamado de laço de paz (Ef 4.3). Sem este laço o que teremos serão partes isoladas e não uma unidade.  A paz é o cinto que amarra os membros unidos numa família.
Não pode haver nenhum verdadeiro conforto sendo cultivado em nossos lares, caso a paz não seja entretida como um ocupante permanente em nossas casas.
Há uma paz paroquial, quando há uma doce harmonia, uma afinação de afetos, quando há um só sentir e querer, como diz o apóstolo Paulo:
“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” (I Cor 1.10).
Uma só corda arruinada desafinará a música e impedirá a unidade harmoniosa da melodia. Um só membro ruim quer na família, quer na igreja, pode vir a prejudicar o todo.
“Tende paz entre vós.” (I Tes 5.13), nos ordena a Palavra. 
Há paz na igreja quando há unidade e verdade entre os seus membros.
Nós devemos ser pacificadores porque nós fomos chamados à paz (I Cor 7.15). Deus nunca chamou qualquer homem à divisão. Isso é uma razão por que nós não deveríamos ser dados à discussão, porque nós não temos nenhuma chamada para isto. Mas Deus nos chamou à paz.
Segundo, porque a natureza da graça no trabalho de mudar o coração é no sentido de torná-lo pacífico. Por natureza nós somos de uma disposição cruel feroz. Quando Deus amaldiçoou a terra por causa do homem, a maldição era que ela deveria produzir espinhos e cardos (Gên 3.18). O coração do homem natural está debaixo desta maldição. Produz nada mais do que cardos de discussão e contenção. Mas quando a graça entra no coração ela o torna pacífico. Infunde uma doçura e disposição amorosa.
Assim a paz nos mostra o caráter de um verdadeiro santo. Ele é dado à paz. Ele é o guardião da paz. Ele é um filho da paz.
A paz que um crente busca não deve ter ligações de amizade com os que vivem no pecado. Embora nós devamos estar em praz com as pessoas deles, contudo nós devemos estar em guerra com os seus pecados. Nós devemos ter paz com as pessoas deles como sendo feitos à imagem de Deus, mas ter guerra com os pecados deles como sendo feitos à imagem do diabo. 
Nós devemos ter uma paz civilizada com o pior dos pecadores, mas não um laço de amizade, porque isto significa comunicar-se com as obras infrutuosas das trevas (Ef 5.11). Josafá, embora fosse um crente devotado, foi culpado disto, em sua aliança com a casa de Acabe (II Crôn 19.2). Sua falta consistiu em não ter tido apenas uma paz civil com Acabe, mas ele formou laços de amizade com ele, e foi isto que despertou a ira de Deus em relação a Josafá.
Assim, nós devemos ser úteis a todos os homens, aconselhá-los, aliviá-los, mas não devemos permitir ter muita familiaridade com eles, porque nós nunca devemos comprar a paz com a perda da santidade. . 
Não devemos ter paz com outros sobre bases erradas. A verdade deve ser comprada e nunca vendida (Pv 23.23). A paz não deve ser comprada com a venda da verdade. A verdade é a base da fé. A verdade é a maior pedra preciosa das igrejas. A verdade é um depósito, um tesouro, que contém o que Deus nos confiou. Nós não devemos deixar nenhuma das verdades de Deus cair ao chão.
Nós não devemos buscar a flor da paz quando isto implicar a perda da pérola da verdade.
Alguns dizem que devemos estar unidos a todos, mas nós não devemos nos unir com o erro. Que comunhão tem a luz com a escuridão? (II Cor 6.14). Há muitos que têm paz com hereges que negam a Palavra, mas isto é uma paz diabólica. Amaldiçoada seja aquela paz que faz guerra contra o Príncipe da paz. Embora nós devamos ser pacíficos, contudo nós somos ordenados a defender a fé (Jd 3). Nós não devemos estar tão apaixonados pela coroa dourada da paz ao ponto de arrancar dela as jóias da verdade. Se preciso for deixe que a paz se vá em vez da verdade. Os mártires prefeririam perder suas vidas a negarem a  verdade.
E é somente por este amor à verdade e sua prática que os servos de Cristo podem viver em verdadeira harmonia e paz, amando-se uns aos outros. E isto é o que Cristo espera efetivamente daqueles que são seus (Jo 13.35).
As tábuas do tabernáculo eram unidas pelos travessões de ouro que simbolizam o amor e a paz de Deus. De igual modo as suas cortinas eram unidas por laçadas que representavam os laços de amor e paz (Êx 26.3,4). Assim os corações dos crentes devem estar unidos pelos laços de unidade em amor e paz.  
Uma disposição pacífica é uma disposição divina.
Deus Pai é chamado  “o Deus de paz” (Hb 13.20).
Deus Filho é chamado “o Príncipe da paz” (Is 9.6). E ele saiu do mundo deixando-nos um legado de paz (Jo 14.27).
Deus Espírito Santo é um Espírito de paz. Ele tomou a forma de uma pomba. Ele é o Consolador.
Cristo orou em favor da paz entre as pessoas do Seu povo (Jo 17.11, 21, 23). Ele orou para que os crentes fossem um, de modo que tivessem a mesma mente e coração.
Cristo não somente orou pela paz, mas sangrou para isto (Col 1.20). Ele não morreu somente para fazer paz entre Deus e os homens, mas também entre homens e homens. 
Discussão e contenção impedem o crescimento da graça. Quem se disporia a semear num campo repleto de espinheiros? Os espinhos sufocam a semente da graça e impedem a sua germinação e crescimento.
Como a fé pode crescer num coração sem paz? Porque a fé opera pelo amor.
Cristo exorta os crentes a terem paz uns com os outros (Mc 9.50).
Somente quando os corações dos crentes são uma casa espiritual adornada com a mobília da paz, então eles estão preparados para hospedarem o Príncipe da paz.
Para mantermos esta mobília abençoada da paz em ordem é preciso não dar ouvidos aos fofoqueiros (Lev 16.16), que de alguma forma sempre procurarão nos exasperar e nos derrubar com os seus relatórios.  E Satanás sempre procurará enviar suas correspondências a nós através destes seus mensageiros. O fofoqueiro é um incendiário. Ele ativa o carvão da contenção para nos indispor com os homens.  
O orgulho deve ser mortificado porque é a humildade a solda que une os crentes em paz.
A inveja deve ser também mortificada porque a paz não pode habitar juntamente com este ocupante.
Nós não devemos somente abandonar estes pecados que são contrários à paz, como devemos nos esforçar para obter aquelas coisas que conduzem à paz, e dentre estas podemos destacar:
A fé, porque ela realiza aquilo que a Palavra nos ordena.A Palavra diz: ”vivei em paz” (II Cor 13.11), e pela fé nós somos habilitados a crer e a obedecer tal ordenança.
Podemos destacar também a prática da comunhão cristã que nos ajuda a vivermos em paz uns com os outros.
Não devemos também nos concentrar nas falhas dos outros, mas nas graças deles. Não há nenhuma perfeição aqui neste mundo. Em vez de ressaltarmos as fraquezas deles devemos voltar nossa atenção para as suas virtudes.
Devemos também orar para que Deus envie o Espírito da paz aos nossos corações. Oremos para que o Senhor extinga o fogo da contenção e acenda o fogo da compaixão em nossos corações.
Os cristãos não devem ser apenas pacíficos, mas pacificadores, isto é, eles devem levar outros a estarem em paz. Eles devem ser instrumentos da consolação do Espírito para trazer alívio aos corações atribulados. Eles devem ser o instrumento da reconciliação entre os pecadores e Deus, e da reconciliação entre irmãos. Esta é uma tarefa difícil mas que sempre contará com a bênção de Deus.  
Deus abomina os semeadores de discórdias entre irmãos (Pv 6.19).
As divisões obstruem o progresso do evangelho. Mas a obra de Deus avançará onde houver unidade e paz.
Aquele que semeia paz colherá paz.  

“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.10)

 

Nós chegamos agora à última bem-aventurança. Jesus nos leva a considerar o custo da vida cristã. Nós teremos lágrimas de arrependimento e o sangue da perseguição, mas nós vemos aqui um grande encorajamento para nos impedir de desfalecer no dia da adversidade, porque nos é prometida a coroação no Seu reino celestial.
A verdadeira piedade será perseguida. E é por isso que entramos no reino de Deus através de muitas tribulações (At 14.22).
Lutero disse apropriadamente que Cristo morreu para tirar a maldição de nós, mas não a cruz.
Os santos não têm nenhuma promessa nas Escrituras que seriam livrados das provações. Embora sejam submissos, misericordiosos, puros de coração, pacificadores, a devoção deles não os protegerá de sofrimentos.
A palavra grega para perseguir significa “vexar, molestar, fazer fugir, procurar a morte”. 
Há vários tipos de perseguição. Ela pode ser física e espiritual. Mas a sua causa e base geralmente serão ocasionadas pela perseguição do erro à verdade. 
Deus tem propósitos santos e sábios nas perseguições que permite que venham sobre os seus filhos. 
As provações refinam a fé dos crentes e distingue os verdadeiros santos dos hipócritas, porque somente uma fé genuína não é destruída pelas tribulações. 
Deus permite que seus filhos passem pelo forno das provações para que os seus corações sejam purificados. Ele remove as escórias do orgulho, impaciência, amor ao mundo e tudo aquilo que é contrário à santidade.
Estas perseguições decorrem sobretudo do fato de que há uma inimizade entre a semente da mulher e a semente da serpente (Gên 3.15). 
As tempestades de perseguições caem principalmente sobre os ministros do evangelho porque eles precisam ser mais refinados do que os demais crentes por conta do sagrado encargo que lhes foi confiado de apascentarem o rebanho do Senhor.  
Especialmente os ministros devem destruir o reino de Satanás e ele cuspirá todo o seu veneno neles. Se nós pisamos na cabeça do diabo ele nos ferirá o calcanhar. E o trabalho dos ministros é o de tirar as pessoas de Deus das garras do diabo. 
Assim, um pastor fiel sempre sofrerá provações e oposições.
Agora, esta perseguição e sofrimento é o que torna um homem bem-aventurado.  Não a perseguição pelo fato de ser um malfeitor, mas por ser um amante da justiça divina.
 É quando sofremos por causa do nosso amor à justiça, na defesa e pregação da verdade, no bom combate da fé, é que somos bem-aventurados. Estes guerreiros santos que defendem a causa da justiça de Cristo conquistarão o reino dos céus.

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Os 9 Dons do Espírito Santo Vamos dividi-los da seguinte maneira: Três Dons de  Revelação   (que revelam algo); Três Dons de  Poder  (que fazem algo); Três Dons    Vocais ou inspiracionais  (que dizem algo). 1° Três Dons deRevelação: - A Palavra da Sabedoria -A Palavra do Conhecimento -O Discernimento de Espíritos SABEDORIA O Dom da Sabedoria nos dá uma revelção da mente de Deus e trata do Futuro. (Gen.6:8-22)    Noé. ( História de Noé,destruição da Terra e    Construção da Arca) CONHECIMENTO O Dom do Conhecimento nos dá uma revelação das coisas do presente ou do passado. (Atos.9:10-11) Ananias vai até Saulo e ora por ele. (Apc.1:10-20) João tinha intimidade com Deus DISCERNIMENTO O Dom do Discernimento lida com espírito que existem na dimensão espiritual,quer ser Espírito Santo, espírito satânico ou espírito humano. (Atos.1:16-18) Paulo discerene o espírito da jovem adivinhadora 2° TRÊS DONS DE PODER: -O Dom da Fé; -Dom de Operação de Milagres; -Dons de Cura . O DOM DA FÉ O Dom da

SIGNIFICADOS DO TABERNÁCULO!

O TABERNÁCULO, SÍMBOLO DO CÉU 1. INTRODUÇÃO                 O Tabernáculo era o  centro da vida religiosa  dos judeus no deserto e  base para o desenvol-vimento espiritual  do povo, isto é, ensinando-lhes um meio definido de buscarem a Deus, e nos primeiros séculos após a sua chegada a Canaã até à construção do Templo de Jerusalém. Para nós, hoje, a base para o nosso desenvolvimento espiritual é: a Bíblia, a igreja, Cristo e a vida dos apóstolos.                 Entre o lugar onde estava situado o Tabernáculo e o acampamento dos israelitas havia uma cerca de linho branco com mais ou menos 2,70 metros de altura, pendurada em pilares. Isso diz respeito à santidade de Deus.                 Foi erguido no deserto no 1º dia do 1º mês do 2º ano do livramento de Israel (Ex 40.2).                 Conforme Ex 25.9 a 26.30 Moisés deveria construir o Tabernáculo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte.                 A Epístola aos Hebreus (8.5) nos informa que o Taberná

KAVOD E SHEKINAH

A Presença do Senhor enchia o  Santo dos Santos Ex 40:34-35 " Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu o  tabernáculo ; De maneira que  Moisés  não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo." Quando a glória do Senhor desceu e encheu o tabernáculo pela primeira vez, deve ter sido um espetáculo temeroso. Deus se agradou do seu povo, não por causa da sua bondade, mas porque os seus pecados foram cobertos e eles um dia seriam pagos por Cristo um dia. Creio que o  sumo sacerdote  sentiu prazer de entrar na presença do Senhor no Santo dos Santos. A palavra hebraica para habitação ou presença de Deus é " Sh'cheenah " ou, como nós pronunciamos: Shekinah (Chequiná). O termo Shekinah era muitas vezes usado na palavra Deus. Na mente judaica, vinha do fato que Ele " habitou " ou " descansou " entre o seu povo, seja um indivíduo, uma tr